Chegamos ao final as eleições presidenciais de 2022. O candidato Lula foi eleito de forma apertada. Enfim chegamos ao fim da era Bolsonaro na presidência do Brasil. Não quero aqui fazer um julgamento do mandato do presidente nestes quatros anos, para isso, já existem vários especialistas escrevendo sobre a política no Brasil. Mas quero refletir um pouco como fica a imagem da igreja evangélica no Brasil após tudo que vimos principalmente nos últimos dois anos.
Gostaria de fazer uma diferença entre a igreja evangélica e a Igreja de Cristo. A primeira com “i” minúsculo é o termo que abrange todas as denominações ditas evangélicas, são instituições físicas de cunho religioso. A segunda, a Igreja de Cristo, é a Igreja invisível que não se limita a templos físicos, em resumo são todos os crentes em Jesus espalhados por toda a Terra. Existem muitos que participam de alguma igreja evangélica que são parte da Igreja de Cristo. Mas a Igreja de Cristo está acima da igreja evangélica, e talvez a falta dessa percepção levou muitos cristãos e suas igrejas a se venderem politicamente, abandonando o evangelho de Cristo e assumindo um discurso meramente humano.
Ficou claro que nesse governo de Jair Messias Bolsonaro o envolvimento da igreja evangélica foi muito grande. Nem mesmo a Teologia da Libertação que alçou Lula ao poder no início dos anos 2000 foi tão intenso quanto o que os evangélicos fizeram com Bolsonaro.
Mas o que a igreja fez de tão ruim ao associar com Bolsonaro? Em resumo foi a “idolatria”. Depositaram sua fé em um político, um pecado que muitos evangélicos acusam os católicos romanos de cometerem, foi o que mais se viu na igreja evangélica brasileira nos últimos anos. O pior não são membros de igrejas na sua individualidade como cidadão em decidir apoiar um político, foram várias igrejas de maneira oficial apoiar o presidente. Chegaram ao ponto durante o auge da pandemia do corona vírus negar a doença e a vacina e não foram poucos que associaram a vacina a “marca da besta”.
A associação entre “marca da besta” e vacina me leva a principal causa dessa idolatria política no meio evangélico, que é a má teologia. A má teologia torna o cristão suscetível a qualquer ladainha com um teor religioso. Basta o politico citar dois ou três versículos que o cristão com má teologia já cai na sedução, assim como Eva caiu na lábia da serpente.
Talvez você esteja pensando que ninguém próximo a você chamou a vacina de marca da besta, mas provavelmente você conhece algum evangélico, ou viu pastores no púlpito falar algo como: “Cristão de verdade vota em Bolsonaro”, “Bolsonaro é ungido de Deus para governar o Brasil”. Provavelmente você viu um famoso líder evangélico no púlpito levar o presidente e ler um trecho do livro de Juízes, no qual cita um personagem chamado Jair que liderou por 22 anos … parece bizarro, mas aconteceu e isso são só alguns exemplos.
O que foi muito evidente também foram as fakenews, mentiras promovidas por muitos para beneficiar uma narrativa política. Se você faz parte de algum grupo de WhatsApp provavelmente viu algum evangélico compartilhando fakenews, uma delas como disse acima, que a vacina era a marca da besta, ou perigosa.
Mas sendo sincero o que mais me incomodou sendo cristão nesse governo Bolsonaro, foi o presidente usar um versículo bíblico de maneira perversa. Ele citava João 8.32: “E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”, como se a verdade fosse o que ele falava, ou se a verdade nesse texto fosse alguma verdade esclarecendo uma mentira, mas não é isso que o texto diz. O texto em seu contexto diz que a verdade é o evangelho, e mais pra frente em João 14.6 Jesus revela que essa verdade é Ele próprio. A verdade que liberta não é um discurso de um político, a verdade que liberta é Cristo.
Você como cristão não fica constrangido com isso? Eu fico e muito. Eu nunca senti e nunca sentirei vergonha do evangelho, mas eu tenho sentido muita vergonha dos evangélicos, no qual eu também sou, apesar de muitos não acharem presbiterianos evangélicos, nós os somos. E agora que citei uma igreja histórica como a minha, na qual muito se julga ter uma boa teologia, mas as igrejas históricas não ficaram isentas de tal mancha da idolatria bolsonarista. Muitos pastores e influenciadores reformados compraram a ideia de Bolsonaro homem de Deus e fora dele não existe opção para o cristão. Realmente muito triste tudo isso.
Então ter votado no Bolsonaro é errado? Não, claro que não. Bolsonaro assim como os demais são opções válidas dentro da democracia brasileira. Então não ter votado no Bolsonaro é errado, ou até mesmo pecado como muitos diziam e dizem? NÃO, claro que não, não existia apenas Bolsonaro no primeiro ou segundo turno.
Mas então o que é errado? A idolatria. A mentira. O terrorismo psicológico e religioso que diz que tal candidato é o certo e só nele teremos “salvação para o Brasil.” Isso é mais que errado, tal discurso é diabólico.
A eleição 2022 acabou, Lula ganhou. Boa parte da igreja evangélica está com medo. Medo principalmente porque o ídolo que eles criaram não podem os salvar. Esse é o preço da idolatria. Lula ganhou, e a igreja deve se arrepender e voltar a ser Igreja de Cristo que é assim que ela poderá ajudar a sociedade. Lula ganhou, e a igreja deve orar para que ele faça um bom governo assim como a bíblia orienta que oremos pelos governantes. E que possamos cobrar dele um bom governo.
Bolsonaro perdeu, e com ele a igreja evangélica perdeu. E é bom que os evangélicos sofram essa derrota, para que seus corações se voltem a Jesus e se tornem realmente Igreja de Cristo. Eu sei, eu sei que não foram todos os evangélicos que agiram assim, mas foi público e notório a postura de boa parte dos crentes idolatrarem Bolsonaro. Igrejas cantando temas de campanha do presidente em seus púlpitos. Está tudo registrado e não tem como negar. Também estão registrados os irmãos e pastores que tentaram se levantar contra essa idolatria serem acusados de “esquerdistas, comunistas e servos do Diabo”.
O bolsonarismo fez mais mal a igreja do que a teologia da prosperidade e do coaching juntas. Ou será o bolsonarismo filho dessas teologias? Na verdade, o bolsonarismo evangélico é fruto da má teologia.
E como sai a igreja evangélica pós governo Bolsonaro? Ela sai manchada e como chacota da sociedade. E infelizmente a Igreja de Cristo sofrerá pela generalização que a sociedade faz, mas a Igreja seguirá triunfante e declarando o reino de Deus e nada poderá impedir isso.