A média anual de leitura de livros dos brasileiros é de 3,96 livros. De acordo com a pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil”, mais da metade da população brasileira (53%) não lê livros. Em comparação à média mundial, o Brasil está muito abaixo. Em pesquisas mais recentes, a média mundial é de 10 livros por ano. Muitos fatores causam a baixa leitura brasileira, entre eles o analfabetismo, a falta de estímulo e questões culturais, entre outros. Tradicionalmente, quem mais lê no Brasil são os cristãos protestantes.
O cristão já está, de certa forma, ligado à literatura por causa da Bíblia. Deus definiu a Escritura Sagrada como uma forma segura de falar ao seu povo. Então, desde os primeiros passos na fé, o cristão é incentivado à leitura bíblica. Cabe comentar que, mesmo assim, os cristãos deveriam ler mais e melhor a Bíblia. Isso evitaria muitos equívocos que vemos por aí, mas este não é o assunto desta vez.
No meio evangélico, observamos uma dificuldade geral para que esse incentivo à leitura vá além dos textos bíblicos. Contudo, creio que é fundamental o cristão ter a prática e o gosto pela chamada leitura secular.
Alguns benefícios da leitura em geral incluem:
- aumento do vocabulário;
- melhora na interpretação de informações (seja texto ou fala);
- aprimoramento da comunicação, tanto escrita quanto verbal;
- exercício da imaginação;
- aumento da capacidade de resolver problemas;
- melhora nos conhecimentos gerais.
A leitura secular também pode agregar na vida de fé do cristão, como, por exemplo:
- observar situações complexas e interpretar sentimentos humanos;
- ajudar os cristãos a lidar com argumentos contrários à fé;
- aumentar a capacidade de se comunicar eficazmente com o mundo exterior;
- desenvolver a capacidade de contemplação, percebendo que na boa arte há beleza a ser admirada como sinal da graça comum de Deus.
Infelizmente, é comum no meio evangélico demonizar certos tipos de literatura, como fantasia ou terror, por exemplo. Mas creio que isso pode mais atrapalhar a fé do que ajudar.
A verdade é que há leituras próprias para cada fase da vida: uma criança tem sua literatura indicada, assim como o adolescente, o jovem e o adulto. A linguagem de um talvez não se comunicará bem com o outro, e isso realmente pode trazer malefícios. Assim também, um cristão mais imaturo terá uma percepção diferente de um outro mais maduro sobre os vários tipos de literatura. Aqui, quero apenas levantar a reflexão.
Primeiramente, para se ter uma defesa segura no contato com a cultura/arte secular, é necessário conhecer bem a própria fé. Por exemplo, não creio que ler ‘A Origem das Espécies’ de Darwin fará um cristão virar ateu. Mas um cristão que não conhece bem a própria fé provavelmente ficará abalado e poderá se revelar um não-cristão ao ler esse livro, por exemplo.
Harry Potter, Senhor dos Anéis, Crônicas de Nárnia, entre outros, já foram considerados livros que o cristão não pode ler por terem magia em suas histórias, o que remeteria a coisas demoníacas. É estranho ouvir isso, sabendo que duas dessas obras foram escritas por cristãos.
Confundir ficção com realidade pode nos fazer cometer grandes equívocos. Há uma grande diferença entre livros de magia e livros que falam sobre magia. Um livro que ensina a invocar magia talvez realmente deva ser evitado, mas um livro que, na história fantasiosa, usa magia no enredo de maneira ficcional deve ser lido como o livro pede para ser lido: uma ficção.
Os três livros citados são famosos, viraram filmes e, para além do entretenimento, o leitor cristão pode perceber vários aspectos do evangelho e da fé nessas obras, como: amizade, sacrifício, amor e a luta contra o mal. Creio que esse é o exercício de todo cristão: olhar toda a arte com a lente cristã.
Ler histórias de “mentirinhas” não é validar a mentira e nem crer em mitos/mitologia. Na verdade, como dizia Tolkien, todos os mitos da humanidade são uma cópia, uma outra versão do Mito Verdadeiro. O mito verdadeiro é o Evangelho, a história de todas as histórias, e através desse Mito podemos ler todos os outros com segurança.
Por isso, incentivo a todos a lerem livros, sejam teológicos ou não.